Sindiserv promove palestra sobre assédio moral e sexual para servidores da FAS

 Sindiserv promove palestra sobre assédio moral e sexual para servidores da FAS

Nos dias 21 e 22 de novembro, o auditório do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv) recebeu servidores da Fundação de Assistência Social (FAS) para um evento crucial no combate ao assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. A iniciativa foi conduzida pelo diretor de relações de trabalho, Diames Rogério de Souza Silva, e pelo secretário-geral, Valderês Fernando Leite.

A presidente do Sindiserv, Silvana Piroli, abriu o encontro destacando a urgência de erradicar o assédio no cotidiano laboral. “É imprescindível que construamos um ambiente de trabalho baseado no respeito, onde todos possam exercer suas funções sem medo ou constrangimentos”, afirmou.

Conscientização e saúde mental no trabalho
No primeiro momento, a psicóloga Sarajane Lima de Oliveira abordou os impactos devastadores do assédio moral na vida dos trabalhadores, explicando que essa prática compromete a saúde física e mental das vítimas, além de deteriorar o ambiente organizacional. “Assédio moral é a repetição de comportamentos que humilham, constrangem e desqualificam o trabalhador. Ele pode gerar ansiedade, depressão e, em casos extremos, até ideias suicidas”, alertou Sarajane.

Ela também apresentou os tipos mais comuns de assédio moral — descendente, horizontal, ascendente e misto — e reforçou a importância da denúncia como ferramenta essencial para interromper o ciclo abusivo. Sobre o assédio sexual, Sarajane enfatizou que o problema reside no comportamento do agressor, não na vítima, e destacou que essa prática pode ocorrer por meio de gestos, comentários ou ações não consentidas. “É fundamental traçarmos limites claros no ambiente de trabalho e promovermos respeito mútuo”, pontuou.

Aspectos legais e o papel do Sindiserv

Complementando as explicações, o assessor jurídico do Sindiserv, o advogado Ricardo Bertoncini, trouxe uma perspectiva jurídica sobre o tema, ressaltando que tanto o assédio moral quanto o sexual são formas de violência e nunca devem ser relativizados. “São ações intencionais que ferem a dignidade e a integridade dos trabalhadores. Não podemos tratar essas práticas como ‘brincadeiras’ ou ‘mal-entendidos'”, afirmou Bertoncini.

O advogado iniciou sua fala destacando a gravidade do tema: “Tanto o assédio moral quanto o sexual são formas de violência. Não são brincadeiras ou mal-entendidos; são ações deliberadas que causam danos profundos.” Ele enfatizou a responsabilidade dos autores: “Sempre há alguém praticando o assédio. Não podemos relativizar atitudes dizendo que é ‘personalidade’ ou ‘jeito de ser’. Todos somos responsáveis por nossos atos.”

A Atualidade do Tema e o Papel da Informação
Bertoncini também abordou a evolução do debate sobre assédio: “Hoje temos mais conhecimento e acesso a informações. Isso nos permite identificar e combater essas práticas com mais eficácia.” Contudo, ele alertou sobre os perigos do engajamento nas redes sociais, que podem tanto amplificar denúncias legítimas quanto reforçar comportamentos inadequados. “Vivemos uma época em que as opiniões se propagam rapidamente. Isso pode ser positivo para conscientizar, mas também pode fortalecer grupos que normalizam o desrespeito”, observou.

Assédio no Serviço Público
O advogado trouxe à tona peculiaridades do serviço público, diferenciando-o do setor privado. “O serviço público não visa lucro, mas a prestação de serviços à coletividade. Pressões por metas e resultados, comuns na iniciativa privada, não devem ser transpostas para o setor público, pois geram conflitos que frequentemente resultam em assédio moral.”

Bertoncini destacou que as denúncias de assédio moral no âmbito da FAS refletem uma desconexão entre as expectativas dos gestores e as realidades dos servidores. Ele defendeu a personalização no atendimento, considerando as peculiaridades de cada comunidade atendida.

A Sensibilidade do Assédio Sexual
Sobre o assédio sexual, Bertoncini foi enfático: “Homens precisam entender que não têm o direito de opinar sobre a aparência das mulheres no ambiente de trabalho. É fundamental traçar um limite claro para evitar qualquer constrangimento.” Ele ressaltou que o assédio sexual frequentemente está vinculado a uma dinâmica de poder, especialmente quando praticado por superiores hierárquicos. “A troca de favores por vantagens no trabalho é uma relação de poder, antes de ser uma questão libidinosa. Isso precisa ser combatido com firmeza”, afirmou.

O Papel do Sindiserv e a Importância da Denúncia
Bertoncini reforçou o apoio jurídico oferecido pelo Sindiserv a servidores que denunciam assédio. “Ninguém que enfrentar represálias por denunciar um caso de assédio ficará sem defesa. Nosso escritório está à disposição para garantir que os direitos de todos sejam respeitados.”

O advogado concluiu com um apelo à reflexão e à mudança cultural: “Caxias do Sul é uma cidade conservadora, onde o machismo ainda é evidente. Precisamos combater isso diariamente, garantindo que o respeito e a igualdade prevaleçam em todos os ambientes.”

Reflexões e próximos passos
O evento marcou um avanço significativo no debate sobre assédio moral e sexual entre os servidores municipais. “É preciso uma mudança cultural que valorize o respeito e a igualdade de condições para todos”, concluiu Ricardo Bertoncini. A iniciativa do Sindiserv reflete o compromisso com a criação de ambientes de trabalho mais saudáveis e seguros, reiterando a importância da união e do apoio mútuo na luta contra qualquer forma de abuso. O evento também foi considerado um marco para os servidores da FAS, reforçando a necessidade de conscientização e ações efetivas contra o assédio moral e sexual.

PARA SABER MAIS:

O Que é Assédio Moral?
O assédio moral no trabalho é caracterizado por comportamentos repetitivos que expõem o colaborador a situações humilhantes, constrangedoras ou desqualificadoras. Esses atos, que podem ocorrer de diversas formas, impactam gravemente a saúde física e mental das vítimas.

“Essa prática é capaz de aniquilar a dignidade do trabalhador, afetar as relações sociais e gerar doenças físicas e psicológicas,” explica Sarajane. Entre os sintomas mais comuns estão insônia, ansiedade, depressão e, em casos extremos, até ideias suicidas.

Tipos de Assédio Moral
A psicóloga destaca quatro tipos principais de assédio moral no trabalho:

Descendente: Quando a prática parte de gestores para subordinados.
Horizontal: Entre colegas de mesmo nível hierárquico.
Ascendente: Realizado por subordinados contra gestores.
Misto: Uma combinação de gestão e equipe contra um indivíduo, considerado o mais danoso, pois isola ainda mais a vítima.
Sarajane exemplifica: “O gestor pode desqualificar um funcionário dizendo: ‘Só podia ser você!’ e estimular os colegas a reforçarem essa mensagem, criando um ambiente tóxico.”

Os Impactos do Assédio Moral
As consequências vão além do ambiente profissional. A vítima pode enfrentar:
– Perda de autoestima.
– Incapacidade de concentração e produtividade.
– Sentimento de isolamento e inutilidade.
– Problemas físicos, como dores crônicas e hipertensão.
“Muitas vezes, a pessoa prefere pedir demissão, mesmo que isso a coloque em situação de vulnerabilidade econômica. Em casos extremos, vemos até mesmo situações que levam ao suicídio,” alerta Sara Jane.

Como Identificar e Combater o Assédio?
Segundo a psicóloga, as vítimas devem estar atentas a comportamentos como:

– Ser alvo constante de críticas destrutivas.
– Ser ignorada ou excluída de decisões e comunicações.
– Receber tarefas humilhantes ou inadequadas à sua qualificação.
– Ser exposta a situações vexatórias, como dancinhas ou “castigos” públicos.
A psicóloga reforça a importância de denunciar esses comportamentos, seja para os gestores superiores, recursos humanos ou sindicatos. “O silêncio só perpetua o problema. O apoio coletivo dos colegas também é fundamental.”

O Papel das organizações
Organizações que ignoram ou, pior, incentivam práticas abusivas tornam-se cúmplices desse problema. “Quando a gestão fecha os olhos para o assédio, estamos diante de um caso de assédio institucional,” esclarece Sarajane.

A psicóloga sugere a adoção de políticas claras contra o assédio, treinamento de líderes e um canal seguro de denúncias. “Uma gestão ética e bem preparada é o primeiro passo para transformar o ambiente de trabalho em um lugar saudável e produtivo.”

Apoio e Prevenção
Sarajane conclui com um lembrete: “Empatia, diálogo e respeito são ferramentas poderosas para prevenir e combater o assédio moral. Cada servidor e servidora merece ser tratado com dignidade.” A construção de ambientes de trabalho saudáveis não é apenas uma questão de produtividade, mas de humanidade.

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