Leonardo Boff: Precisamos mudar urgentemente para garantir a vida na terra

 Leonardo Boff: Precisamos mudar urgentemente para garantir a vida na terra

Neste mês de setembro o Rio Grande do Sul vivenciou uma das maiores enchentes já ocorridas no Estado, que ceifou vidas humanas e animais, além de arrasar com plantações e cidades inteiras. Também as populações do centro/norte do país convivem com temperaturas exageradamente altas, especialmente para o período do ano. É neste cenário que mais de uma centena de pessoas recebeu o professor e teólogo Leonardo Boff, que veio trazer algumas reflexões acerca do tema “A Emergência Climática e o Saber Cuidar da Vida”. O Sindiserv foi uma das entidades promotora do evento.

Leonardo Boff inicia sua fala se solidarizando com as famílias e comunidades atingidas pelas enchentes das últimas semanas no RS, lembrando que não apenas vidas humanas, mas animais e culturas agrícolas foram perdidas com as inundações. Aliás, de acordo com o teólogo, inundações por excesso de chuva, calor insuportável, incêndios e outros fenômenos climáticos extremos ocorridos nos últimos meses em esfera global não devem ser tratados como fenômenos naturais. “Começamos uma nova era da terra e o tempo do aquecimento global já se esgotou; agora começa a era das mudanças climáticas que dia a dia vem crescendo”. Segundo ele, mais de 700 mil pessoas já morreram no mundo em função das mudanças climáticas.

Para o estudioso, precisamos mudar nosso conceito de políticas públicas, a forma da educação e a maneira com que nos relacionamos com a natureza. Leonardo Boff adverte que o aquecimento global é consequência direta do nosso sistema industrialista mundial, seja no capitalismo ocidental, seja no socialismo oriental (China). “Ambos cresceram aplicando o mesmo método de assalto sistemático à natureza e aos bens naturais, dizimando boa parte dos ecossistemas e derrubando florestas inteiras. Tudo isso desequilibra o clima da terra, começando com as chuvas, pois são elas que mantém a vida”, observa. E adverte: a terra não suporta esse crescimento desenfreado. E ela responde mandando mais calor, mais chuvas, mais terremotos, mais doenças.

No caso do Brasil, o teólogo questiona se há a necessidade de ano após ano, bater recorde no crescimento do PIB estimulado por uma agricultura danosa, que não está alimentando as pessoas. “A coisa mais antiecológica é a desigualdade social. Somos e continuamos assassinos. Todo o ano destruímos milhares de espécies de vida e ainda temos outros milhões de espécies ameaçadas para satisfazer um regime de acumulação de riqueza de um pequeno grupo. Não são os pobres que produziram/produzem o aquecimento terrestre, mas sim os grandes grupos industriais, que negam o que está acontecendo”, diz Leonardo Boff. Para ele, se houvesse uma consciência coletiva entre os donos dessas corporações e os governos das grandes nações industriais, haveria uma mudança na forma e no sistema de produção industrial, respeitando os limites da terra.

A industrialização desenfreada e o assalto sistemático aos recursos naturais do solo e das florestas colocam a civilização na beira do precipício, mas o teólogo acredita que ainda há possibilidade de retorno. Para isso, acredita Boff, é necessário um processo de educação coletiva. E aqui se insere o trabalho dos sindicatos: “A nossa experiência é que a resistência vem de baixo, dos jovens, sindicatos, movimentos sociais e comunitários”.

Leonardo Boff aconselha que cada indivíduo comece cuidando de uma pequena parte, de seu pequeno território. Assim, de parte em parte, o estudioso acredita que se poderá salvar/cuidar do todo. O teólogo sugere que os sindicatos promovam a consciência/educação ecológica e lembra que nos anos de 1980 esteve junto à Central Única dos Trabalhadores (CUT) para ajudar a implementar o conceito de economia verde, circular, que trabalhe a conscientização de cada indivíduo. Ressaltou, ainda, a importância de se cultivar o amor e a solidariedade. “Estamos atrasados para reverter o processo de aquecimento da terra, apenas poderemos ajudar as pessoas a se prevenir e minorar os efeitos lesivos. Eles serão cada vez mais frequentes e cada vez mais danosos”, alerta Boff. “É uma tarefa enorme e precisamos agir logo”, adverte.

O doutor em teologia destaca, ainda, que está satisfeito em ver que o governo Lula está falando em ecologia. Para ele este é um fato novo. “Lula assumiu que o Brasil é o centro para essa mudança mundial. A preservação da floresta Amazônica é necessária para o bem de toda a humanidade”, considera Leonardo Boff.

Texto: Marlei Ferreira

 

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